Perdas na Infância: Nossas experiências da infância não ficam presas na infância, elas nos acompanham por toda a vida. A pessoa que nos tornamos hoje, é o resultado de nossas experiências ao longo da vida, especialmente as experiências da infância.
As experiências de perda no decorrer da vida são inevitáveis. Estamos sempre, de alguma forma, vivenciando perdas. É impossível passar pela vida ileso a elas. Mesmo ao fazer escolhas, se ganha algo, mas também se perde algo. E a todo momento temos que fazer escolhas, sendo que, a cada escolha que fazemos, perdemos a outra possibilidade não escolhida.
No dicionário, podemos encontrar a definição de perda como: carência, privação, extravio, sumiço do que se possuía, dano, prejuízo, ruína.
Existem diversas possibilidades de perdas que um ser humano pode experienciar ao longo da vida, como por exemplo: a perda de um animal de estimação, de uma amizade, a perda da infância na transição para a adolescência, a perda de um membro ou função do corpo, o desmame, a perda do ano letivo escolar, a perda de um ente querido, dentre uma infinidade de outras possibilidades, sendo por este motivo, impossível tentar descrever todas elas.
Diante da inevitabilidade das perdas, o que fará toda a diferença é a forma como lidamos com elas. Não podemos mudar o que fazem conosco, mas temos liberdade para escolher o que fazer daquilo que fazem conosco.
Um adulto pode ter esse discernimento e lidar de forma construtiva com as suas perdas; mas e as crianças, como lidam com as perdas na infância? Há três possibilidades: 1) Não superar; 2) passar a vida toda tentando superar, com ajuda psicoterapêutica; 3) superar com a ajuda e orientação dos adultos (pais, familiares, professores, e quando for o caso, ajuda profissional).
Quais as Principais Perdas na Infância?
Existe uma infinidade de perdas que uma criança pode vir a experienciar, podendo ser tanto concreta, como a perda por morte de um dos pais, ou simbólica, como a perda de uma infância feliz devido a maus tratos, negligência, entre outros.
As crianças sofrem perdas significativas para elas desde muito cedo, quando ainda são bebês, como por exemplo o desmame. Essas perdas quando não percebidas e orientadas por um adulto de forma positiva e adequada, ou seja, que possibilite superação do luto, estão associadas a transtornos psiquiátricos na idade adulta.
Toda perda, deve necessariamente passar por um processo de luto, para que haja a elaboração dessa perda. O luto refere-se ao período subsequente à perda, cujo objetivo é a adaptação, é adaptar-se emocionalmente a essa perda, é o processo de reconstrução, de reorganização.
Estudos indicam que a depressão e o transtorno bipolar estão associados a traumas na infância. Mas o que poderia caracterizar um trauma na infância?
Bem, existem uma infinidade de situações que podem ser traumáticas para a criança, como por exemplo: o abuso sexual, violência física, violência psicológica, o bullyng, a perda de um ente querido, acidentes, negligência por parte dos pais, abandono, fracasso escolar, rejeição, entre outras. Em geral, situações difíceis e que ficaram mal resolvidas.
Abuso sexual está associado a transtornos dissociativos– de uma forma simplificada, são transtornos do qual a pessoa deixa de perceber a realidade, confundindo-a com pensamentos, memórias e identidades de outras pessoas, podendo apresentar várias mudanças de personalidade.
O transtorno de estresse pós-traumático está associado a acidentes na infância. E o comportamento antissocial nas crianças, pode surgir a partir da perda de algo bom e positivo na experiência da criança, que lhe foi retirado.
A perda por morte, especialmente de um dos pais, está associada a depressão crônica e ansiedade. No entanto, entre os fatores que podem modificar a probabilidade do desenvolvimento de depressão após a morte de um dos pais são as condições anterior, durante e após a morte. Ou seja, a qualidade da relação do pai que faleceu (se era boa ou ruim), às circunstâncias da perda (de que forma a pessoa morreu – de forma natural, por acidente, por suicídio, ou por assassinato) e os cuidados do pai sobrevivente (a qualidade do suporte, apoio e segurança que o pai sobrevivente está dando a criança).
A perda de um dos pais durante a infância também aumenta significativamente a probabilidade de desenvolver transtorno bipolar na idade adulta, sendo que, a perda por morte não natural (acidente, suicídio, assassinato) teria uma associação ainda mais forte com o surgimento de transtornos psiquiátricos na fase adulta.
A separação dos pais na infância, também é um fator de risco para o desenvolvimento de depressão na fase adulta, até mesmo maior do que a morte de um dos pais. O problema não é tanto a separação em si, mas sim, como ela acontece.
Um dos pais que fala mal do ex-parceiro na frente da criança por exemplo, pode gerar sentimentos de conflitos e confusão na criança, devido ao amor que ela nutri por ambos os pais.
Brigas e discussões podem gerar sentimento de culpa e angustia na criança. Ela pode pensar ser a responsável pelos desentendimentos.
A separação também pode gerar um sentimento de abandono do pai que saiu de casa, por este motivo, é necessário deixar claro para a criança que ela não está sendo abandonada e fazer-se presente o máximo possível na vida dela. Manter a rotina da criança também é importante.
Há relação também, entre abuso emocional na infância e aumento nos níveis de depressão na fase adulta – o abuso emocional pode ser caracterizado por um comportamento por parte dos pais como, dizer coisas do tipo: “você nunca vai ser nada na vida”, “você faz tudo errado”, “sua peste”, “nascesse para atrapalhar a minha vida”, e diversos tipos de outros xingamentos, chantagem emocional, entre outros.
Negligência está associada a dificuldades na expressão emocional e diversos déficits sociais e de atenção; e o abuso físico e sexual com a depressão.
Algumas perdas pelas quais as crianças passam, são consideradas irrelevantes
para o adulto, tanto que, em muitos casos, nem é percebido que a criança pode estar passando por um período difícil e estar de luto por algo, precisando de auxílio para superar.
Outras perdas, são mais facilmente percebidas pelos adultos, como a perda da morte de um ente querido, mas, são muitas vezes tratados erroneamente pelos adultos, na tentativa dos mesmos, de proteger a criança.
A maioria dos adultos sabem pouco, e tem pouca habilidade para lidar com as perdas das crianças, devido possivelmente, a dificuldade de lidar com as próprias perdas. Essa dificuldade pode acontecer, devido à pouca ou nenhuma oportunidade de aprender a lidar de forma positiva e construtiva com elas desde a infância.
É preciso que os adultos prestem atenção nas crianças e nas perdas que elas sofrem, por mais irrelevantes que possam parecer, e ao perceberem alguma dificuldade da criança em lidar com essa perda, orientá-las para a superação das mesmas. É indispensável que os pais entendam que as suas atitudes tem muito mais influência sobre as crianças, do que muitas vezes eles imaginam.
FONTE: O psicólogo ONLINE
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Toda perda mal elaborada na infância, causará com certeza algum transtorno no adulto. Falarei aqui da perda dos pais.
Todos na infância, idealizamos nossos pais como se fosse o próprio Deus, afinal são eles que nos protegem e nos propiciam o alimento e o conforto.
Porém, quando de alguma forma essa situação não se concretiza, seja pela ausência de um dos pais, pela violência ou pela indiferença, essa criança se tornará um jovem revoltado, afinal o "Deus" o rejeitou, então ele não é digno de ser amado por ninguém mais, já que quem deveria amá-lo o abandonou e não gosta dele.
É importante entendermos que a criança pensa diferente dos adultos. Ela sempre trará a culpa de tudo que acontece no meio familiar em relação aos pais para si mesma. Ela não consegue entender porque os pais se separam, porque afinal pra ela eles "são perfeitos" (assim como Deus), então sendo eles perfeitos, não podem ser culpados, dessa forma, a culpa é dela mesmo.
A criança pensa da mesma maneira com a morte de um dos pais, ela não compreende esse "abandono" e às vezes desenvolve uma ambivalência de emoções:a culpa e a raiva. A raiva por seu ente querido ter a abandonado, porque não compreende a morte em si.
Dessa forma é necessário ter o diálogo, descer ao nível de compreensão da criança em todas as situações e principalmente em momentos de perdas, não subestimar nenhuma perda e dor.
Normalmente numa separação, os pais estão tão sofridos, que esquecem que a criança precisa ser orientada de tudo que esta acontecendo, de forma verdadeira e que compreenda o porquê aconteceu e como será daquele momento em diante. Não se deve mentir, porque a criança está sempre atenta, mesmo que de forma inconsciente.
O problema que percebo na minha experiência, é a falta mesmo de diálogo, deixando que a criança interprete a sua maneira o que aconteceu, e dessa forma, traz pra si a culpa, que gerará transtornos em sua adolescência e vida adulta.
Essa criança culpada e sofrida acompanhará o adolescente ou adulto, provocando sintomas psíquicos ou físicos de forma inconsciente ou não, até que se resolva essa situação.
Na maioria dos casos, na experiência com a Terapia Regressiva, a origem dos transtornos, sintomas e doenças estão na fase infantil.
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