LIMITES Até onde chegar? - Série Ginny e Georgia da Netflix

 


Por Vanderli Pantolfi

NO PROJETO FILMETERAPIA: hoje vamos falar da Série Ginny e Georgia – LIMITES – Até onde chegar?

Como sempre spoilers vão surgir nessa matéria, não tem como analisar o comportamento dos  personagens se não descrever parte deles aqui, portanto encare como um estímulo para assistir nessa visão, ok?

Relembrando o que falei no FILMETERAPIA  de Loucuras de Amor:

Quem tem me acompanhado sabe que estamos ABORDANDO filmes e séries de forma consecutiva falando de doenças mentais.  Começamos com a série “SPIN OUT” sobre a Bipolaridade, “EU ME IMPORTO” com a sociopatia, “LOUCURA DE AMOR” sobre transtorno bipolar, Síndrome de Tourette, TOC e outros transtornos de personalidade e  hoje a Série Ginny e Georgia, pois é nítido o grau de Sociopatia na personagem Ginny. E por que relembrar isso? Por três motivos!

        I.      Primeiro porque esses filmes e séries têm sido destaques de lançamentos da Netflix, o que leva para o segundo motivo.

      II.     Segundo porque os transtornos mentais têm estourado no mundo por conta da pandemia, e teve um aumento de 100% de suicídio entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, sabendo-se que os transtornos mentais são causas também de suicídio é importante a prevenção e conhecimento, o que leva para o terceiro motivo.

    III.  Terceiro por conta das dificuldades em lidar com as frustrações, medos e inseguranças que os personagens adolescentes dessa série enfrentam como Ginny  que sofre preconceitos raciais,  se automutila,  Marcos que depressivo pensou em morrer, se sentindo sozinho em sua dor e do garoto Austin que traz introspecção, ansiedade e agressividade por conta de carências e abandono afetivo.  Sabemos que esses comportamentos envolvem muitas crianças e adolescentes, por isso a situação é bem crítica, pois,  segundo o psiquiatra e escritor de mais de 60 livros, Augusto Cury, a cada 40 segundos alguém morre por suicídio no mundo, a cada 4 segundos tem a atitude, 1 em cada 10 tenta o suicídio e provavelmente a cada 1 segundo alguém pensa em suicídio. 

E atualmente como objetivo maior desses Filmeterapias, é ajudar você a manter-se vivo mental, emocional, espiritual e fisicamente diante dessa pandemia que por irresponsabilidade de seres egoístas e manipuladores, agem de forma ditatorial diante da fragilidade da população. Isso tudo   acaba  criando pânico com a insegurança de tudo: seja de pegar a doença,  o medo de morte sua e familiar, medo da escassez de recursos e não poder cumprir com seus compromissos, criando a ansiedade coletiva, que enfraquece e adoece vulnerabilizando a todos, tornando-nos assim presas fáceis para esses ditadores.

Então, todo conhecimento é importante para esclarecer e ajudar manter-se calmo apesar do furacão que acontece hoje no meio em que vivemos.

Vamos ao RESUMO DA SÉRIE: a série da Netflix de Sarah Lampert e a Debra J. Fisher segue a estudante Ginny (Antonia Gentry) de 15 anos, aparentemente mais madura que sua bela, descolada e envolvente mãe de 30 anos, Georgia (Brianne Howey),  que se mudaram para uma pacata cidade da Nova Inglaterra, depois da morte do padrasto na cidade que moravam. Ginny tem misturas de sentimentos bons e ruins por essa mãe que atrai todos os olhares por onde passa. Ela também se sente responsável com o meio irmão  Austin (vivido por Diesel La Torraca), um menino instrospectivo carente pela ausência do pai, que acredita ser um bruxo e por isso ausente, mas que na verdade aparenta estar preso.  Em  Wellsbury (cidade fictícia) recomeçam a vida, porém,  como os desvios de caracter ou vícios de Gerogia continuam, os seus segredos poderão ser descobertos. Apesar de tudo, Georgia conquista o grande partido do local o prefeito Paul, além de despertar atenção também de Joe o dono do restaurante. Ginny  nessa cidade pela primeira vez  tem conseguido fazer amizades depois de morar em doze cidades ao longo de sua vida e quer que dessa vez seja diferente, sem precisar fugir novamente.

Vamos a minha visão psicoterapêutica:

Nessa série, uma mistura de comédia, Romance e drama, se percebe nos comportamentos dos personagens, transtornos depressivos e doenças mentais, racismo, abuso sexual, ansiedade, medos e inseguranças e descobertas sexuais. De acordo com as autoras, muitas das histórias da série são baseadas nas suas experiências reais e dos atores. Psicólogos ajudaram na construção desses comportamentos para que realmente figurassem como reais, como podemos constatar ao assistindo os episódios.

O objetivo da série acredito é mostrar o grande poder das experiências e relacionamentos que temos na fase infantil e adolescência seja quanto ao racismo, às drogas, nas descobertas das experiências sexuais,  e nos relacionamentos com amigos, namorados e principalmente com a família em destaque para nessa série os relacionamentos com as mães. O que estou sempre dizendo aqui,  batendo na mesma tecla? Todos nossos conflitos vem dos relacionamentos com os pais que se iniciam no começo de nossa vida, após isso são reflexos e gatilhos a nos acordar que algo esta errado e precisa ser revisto.

Para explicar o comportamento de Georgia, a sociopatia,  é importante lembrar, o que já dizemos no Filmeterapia de “Eu me importo” que o meio familiar contribui para a manifestação dessa doença mental, pois segundo Georgia ela foi abusada pelo padrasto dos seis aos quinze anos de idade, se sentindo sozinha, insegura e impotente, com o abandono da proteção materna o que gerou muita mágoa e raiva de sua mãe  justamente por não tê-la protegida do algoz. É muito comum no setiing psicoterapêutico os clientes, porque meninos também são abusados,  sentirem raiva de suas mães por não ter percebido a violência do abuso sexual que sofreram na infância e adolescência. Na maioria das vezes, quando não se tem doença mental, a raiva pelas mães superam a raiva pelo algoz, por entenderem que as mães não cumpriram o papel delas que é de cuidar e proteger, nesses casos a psicoterapia é fundamental para compreender o que passou e superar essa trauma.

Diante de um ambiente familiar de violências sexuais ou não, a criança com predisposição a sociopatia, provavelmente vai desenvolver essa doença, como forma de proteção. No caso de Georgia, por conta do longo e sofrido abuso sexual do padrasto, todas as vezes que se sentir abusada em qualquer nível pelos homens, ela provavelmente vai matar, matando todas às vezes o padrasto que jamais deixou de estar presente em suas emoções. Ela não percebe crime nos seus atos, ela entende que só esta se defendendo a si e seus filhos, coisa que segundo ela nunca a mãe fez, de protegê-la, por isso ela fugiu de casa aos 15anos, fugiu do abandono e violências. Pra se sustentar e aos seus aprendeu com a própria experiência que deve lançar mão de qualquer coisa, seja roubar, enganar, falsificar e até matar. Ela acredita sinceramente que esta fazendo o certo, que esta se defendendo e a sua família, não percebe o grande mal que esta causando aos filhos. Para Georgia, não há limites nesse seu objetivo.

Georgia tem sentimentos verdadeiros de amor pelos filhos, por Paul, por Zion (Nathan Mitchell) o pai de Ginny e também tem sentimentos reais de amizade por outras pessoas como Joe, Nick seu colega de trabalho e os vizinhos, porém, isso não a impede de mentir, enganar, manipular e até matar se for necessário para sobreviver e proteger os seus filhos.

Por toda a série vemos na adolescente Mary, uma pessoa triste e sofrida, bem diferente da mulher Georgia de 30 anos, que apesar de momentos tensos, sabe disfarçar e realmente vive muitos momentos de felicidade.  Na série ficou esse buraco pra explicar essa transformação, porém, pela experiência de clínica psicoterapêutica, imagino que ela teve que aprender a conviver com a realidade escolhendo vestir a personalidade de Georgia, uma mulher jovem, linda, descolada, sexy competente e feliz. Essa é a visão das pessoas que estão a sua volta, não propriamente de seus filhos.

Para Ginny, que relata o tempo todo nos episódios sua visão pela mãe, ela é uma mulher forte sim, bonita, determinada, mas que esconde muitos segredos e é inconseqüente na criação dos filhos, principalmente com Austin. Ginny não quer ser como a mãe, diz isso por toda série, porém, começa a ter comportamentos em seus relacionamentos, parecidos com o de Georgia, chegando a dizer em determinado momento para sua mãe, quando é questionada de estar mentindo e escondendo assuntos dela:  algo assim “ por que esta estranhando? Eu sou você!” O que tenho dito live após live, que o que apontamos em nossos pais, acusando e julgando? Passamos a ter o mesmo comportamento! É inacreditável como isso é real! Eu confirmo diariamente na clínica, como também em minhas próprias experiências pessoais.  Quer ser diferente de seus pais? Só tem um caminho, comece por compreender suas atitudes e logo depois, perdoe-os verdadeiramente, assim se liberta de suas crenças e comportamentos que são por você desprezados.

Talvez pelo comportamento da mãe, Ginny é insegura nas relações, se veste de forma discreta, e quando consegue fazer amigos e um pouco de fama, sofre também com o preconceito racial, seja nas redes sócias seja por parte de um professor. Tudo isso repercute na vida dessa adolescência que esta sempre insegura quanto ao seu futuro e da família, e quando a dor emocional esta insuportável, ela busca na automutilação uma forma de concentrar toda a dor num só lugar, como ela mesmo diz, e momentaneamente ficar bem.

A automutilação ou autolesão é uma ferida feita por uma pessoa de maneira intencional que agride o seu próprio corpo fisicamente. A forma mais comum se dá com a utilização de um objeto de corte afiado, gilete, estilete, por exemplo,  com a finalidade de cortar a própria pele. Esse ato causa dor, desviando a dor emocional, porém pode levar a algumas consequências drásticas como o suicídio e morte. Automutilação provém de alguma desregulação emocional, ou seja, não é considerada uma doença, mas sim um produto de algum outro transtorno.

Segundo estudos: 20% das pessoas usam da automutilação em situações únicas, isoladas e esporádicas, sem repetir esse comportamento. O que é considerado uma resposta a um sofrimento momentâneo e não a um transtorno em si. Porém, 80% dos indivíduos que se automutilam, apresentam outros sintomas de desregulação afetiva, como a depressão, a bipolaridade, a esquizofrenia e transtornos de personalidade.  As pessoas se mutilam por vários motivos como, carência, solidão, frustrações, raiva, medo, angustias, ansiedades, vazio interior, autopunição, vingança para punir o outro e desequilíbrios emocionais.  Assim que a família perceber o transtorno, deve se procurar ajuda psiquiátrica e psicoterapêutica, para tratar a origem do problema.

Vamos falar agora de  Austin, que também tem a mistura de sentimentos. A sua mãe é heroína, mas não o protege como ele deseja. Num episódio na escola, ao responder uma das muitas provocações de um colega de sala, ele age de forma violenta. Fica feliz ao ouvir na sala do diretor que sua mãe estava preocupada com ele, e que deveria fazer terapia, para logo depois se frustrar ao ouvir da boca dela mesmo que não estava nem um pouco preocupada com ele, porque ele é normal e não tem nada de errado com ele, e que o menino mereceu sofrer a violência. Um péssimo exemplo para essa criança em construção de personalidade, afinal é assim que ela age. 

É gritante o sofrimento desse menino, pelo abandono dos pais, ele queria que a mãe tivesse realmente preocupada com ele, como isso não acontece ele se sente abandonado, por isso faz xixi na cama mesmo com 9 anos de idade, comportamento de quem se sente abandonado e inseguro.  

Um pai ausente que ele incentivado pela mãe fantasia ser um bruxo das trevas, por isso não pode vê-lo, e uma mãe desequilibrada que o trata como se ele fosse adulto e tivesse maturidade para entender tudo que acontece na família e relações. Vemos que ele foge para o mundo da imaginação se sentindo o Harry Potter para poder continuar vivendo. Aí está à terceira fase onde se começa todos os transtornos, sofrimentos e doenças de nós seres humanos, na primeira infância, a segunda  é  o nascimento e a primeira fase é a gestação.  Pelo histórico dessa família, apesar de não ter sido revelado ainda na série, provavelmente essa criança traz problemas em todas as fases, assim como sua meia irmã Ginny.

Marcos que é vizinho de Ginny. Ele e Ginny perdem a virgindade juntos, iniciando uma relação conflituosa e ao mesmo tempo intensa. Marcos tem um semblante triste, comprovando a depressão que passou, mantendo ainda uma instabilidade emocional, por conta disso é julgado como egoísta. Com remédios e terapia, segundo ele pode superar a morte do melhor amigo, um ano antes de conhecer Ginny. Com a sequencia dos episódios a instabilidade emocional dele vem à tona, demonstrando que ele ainda precisa de muita ajuda. É uma pena porque, tanto a família assim como os colegas não percebem essa solidão e sofrimento. Com Genny ele pode contar, mas não pôde apoiá-la quando ela precisou, seja por medo, seja por insegurança de vir a sofrer de novo,  seja por não saber como fazer.


LIMITES, Até onde pode chegar? E as consequências disso tudo?

Georgia vimos que não os tem! Como já falamos ela vai continuar com os mesmos comportamentos se  não receber ajuda. E o pior, ela não acha que o precisa. Portanto, vai continuar sem limites. Quantos sociopatas estão soltos em nossa sociedade? Não há o que fazer de forma direta já que não temos autoridade para resolver. Mas, podemos nos esclarecer como agem e procurar nos defender e ajudar quando for nos permitido.

Zion, o pai de Ginny, apesar de ser bonito e atraente, não se assumiu como pai, preferindo buscar a realização de seus sonhos. Mesmo depois que se realizou não se compromete com a real segurança que sua filha e o enteado  desesperadamente necessitam. Quantos de nós pais e mães deixamos de lado nossos sonhos pessoais e nos comprometemos com a felicidade de nossos filhos, porque essa é nossa missão como pais, é isso que Deus e a sociedade, assim como eles próprios esperam de nós. Se erramos, e claro erramos, na maioria das vezes foi tentando  ou acreditando acertar, mas assumimos isso. Se Zion tivesse assumido o papel dele no passado, o destino de Genny e  Mary ( Georgia) poderia ser diferente.

Os pais de Zion, os avós de Ginny, por acreditarem que o casal fosse muito jovem sem maturidade e condições financeiras de educar uma criança, faz a proposta de serem tutores da neta, desagradando à mãe, o que causou a fuga com a criança. Se Mary (Georgia) tivesse, naquela ocasião recebido o acolhimento, a proteção, a compreensão, talvez também tivesse uma história mais feliz pra todos.

Uma mãe me contou que assistiu a série junto à filha de 15 anos, que achei ótimo e inclusive recomendo aos pais. Na interpretação da filha, Ginny é muito chata e a mãe  Georgia super legal, bonita e descolada, e que estava lutando para o bem da família. Então a mãe a interrogou sobre se Georgia matar é defender a família; e adolescente disse que era o que ela sabia fazer. Então a mãe disse que a Geórgia é doente, é sociopata e por conta disso, ela fere as pessoas, e não pensa nas consequências, inclusive prejudicando os próprios filhos como a série mostra.

Isso é preocupante, porque mesmo vendo a realidade apresentada ali, os adolescente podem achar que isso é correto a fazer, E NÃO É! Georgia é doente, fruto de uma ambiente tóxico, agressivo e cruel, mas é doente! Tão doente quanto seu padrasto e sua mãe drogada. Porque eles também foram vítimas de ambientes cruéis. O padrasto provavelmente foi abusado na infância; a mãe provavelmente faltou segurança, amparo e amor também na infância. Assim apenas foram repetindo ciclos da hereditariedade de crenças e comportamentos dos pais, assim como Georgia  em relação aos pais fez e Ginny como Austin podem começar a fazer. Isso acontece com todos nós, sempre aconteceu. Mas, agora com o avanço da psicoterapia e psiquiatria, podemos dar um basta nisso, ressignificar essas emoções e nos libertamos desses comportamentos doentios para que possamos construir para nós e nossos descendentes vidas mais estáveis e felizes.

A sociopatia, como muitas doenças mentais ou não, ainda não tem cura, mas, poder ser controlada, para que a pessoa possa viver uma vida praticamente normal e feliz. Eu, você, nós todos somos responsáveis em por limites em tudo isso. Vamos assumir nossa vida agora, assumindo nossos limites!

Essa série é muito boa, e indico aos pais assistirem com seus filhos adolescentes como fez a mãe aqui mencionada. Além de todos os assuntos aqui já falados, a série conta também das dificuldades dos adolescentes homossexuais em iniciar as relações, assim como, do sofrimento de adolescentes causados por separação dos pais. Esses temas ficarão para outra  filmeterapia.

Importante entender que estamos vivendo um momento de liberalismo que pode a vir gerar consequências para toda a sociedade. Eu também já fui jovem, sei da ansiedade da liberdade, mas essa se conquista com maturidade e respeito. Precisamos de regras para manter a família e consequentemente a sociedade. Lembro de uma garoto que atendi na clínica, que queria ser livre aos 14 anos, sem prestar conta de seus atos à mãe, por conta que o pai era ausente, e estava criando muito conflito com a mãe. Na terapia entendeu que a liberdade tem uma irmã gêmea que não desgruda dela nunca, que é a responsabilidade. Entendeu que a mãe e não ele, era a responsável pelos atos dele, fossem  esses, sociais ou jurídicos, ou seja, a nossa sociedade não o considera responsável pelos seus atos com essa idade. Entendeu também que na primeira dificuldade emocional, era pra mãe que ele corria para resolver  seus problemas, entendeu que tudo tem o tempo certo para acontecer, e mais importante ainda, entendeu que a liberdade a gente conquista dia-a-dia no convívio e nas relações de respeito e amor.

Porém, quero deixar claro aqui, que a verdadeira liberdade mesmo, que todos nós ansiamos só existe na nossa mente, quando estamos equilibrados e felizes.

Sócrates quando foi preso de forma injusta, disse que àqueles que o prenderam são os verdadeiros prisioneiros, pois sabem que foi injusto.  Sócrates acreditava que os homens poderiam aprisionar seu corpo, mas a mente de um homem não conseguiria ser aprisionada por ninguém.

Asssita o vídeo da matéria aqui:




Vanderli Aparecida Pantolfi da Costa é Palestrante, Psicanalista

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