FILMEterapia: Três Filmes Sobre Abusos, Traumas, Violência Doméstica e Familiar



Por Vanderli Pantolfi


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Olá ser... Estou amando fazer análise psicoterapêutica dos filmes, e você o que tem achado disso? Responda nos comentários.

Dessa vez juntei três filmes pela semelhança de assuntos que eles abordam:

1 - Paixão Obsessiva (UNFORGETTABLE)

2 - Felicidade por um fio (NAPPILY EVER AFTER)

3 - Olhar de Anjo (ANGEL EYES)

 

ENTÃO VAMOS ÀS ANÁLISES INDIVIDUALMENTE:

 1 - Paixão Obsessiva (UNFORGETTABLE)

A trama do filme foca em Julia Banks (Rosario Dawson), a qual deixou sua vida na cidade grande e se mudou para uma pequena cidade para ficar ao lado de seu futuro marido, David Connover (Geoff Stults). David tem uma filha com sua ex-esposa, Tessa Connover (Katherine Heigl), que é uma mulher obsessiva, ciumenta e que não medirá esforços para tirar David dos braços de Julia, e é nessa teia de relacionamentos que a tensão é construída.


Tessa acha que ainda ama David e que há chances dos dois voltarem, mas quando vê seu ex-marido feliz com Julia e que sua filha também está se acostumando e gostando dela, Tessa fica desestabilizada. Ela descobre que David e Julia vão se casar, e é nesse momento que seu ciúmes vira patológico.  Tessa bola um plano para sabotar Júlia e retomar o relacionamento.


Júlia percebe os jogos feitos por Tessa, e começa o pior pesadelo pra ela que é de enfrentar os fantasmas do passado, seu ex-namorado violento e as lembranças de seu pai que sempre a torturaram pela violência com ela e sua mãe.

 

OBSERVAÇÕES PSICOTERAPÊUTICAS

·         Violência na família de origem de Júlia;

·         Projeção do pai no seu ex-namorado também violento;

·         Preocupação abusiva da mãe de Tessa com a beleza;

·      Desrespeito e desvalorização de Tessa quando criança e por toda sua vida pela mãe, criando uma realidade do padrão de beleza e perfeição, que visivelmente não lhe trazia felicidade; E ela passa a repetir o mesmo padrão com a filha. 


Tessa com a mãe


·   Com a separação dos pais de Tessa na adolescência criou uma ruptura com a realidade moral, comportando-se de forma psicótica, quando ateia fogo na nova casa do pai, com ele e a madrasta dentro. O quadro agravou com a chegada da madrasta de sua filha, que ela quis eliminar assim como quis com a mulher do pai.

·         Preocupação de Júlia com a influência da avó na educação da filha de David.

 

 2 - Felicidade por um fio (NAPPILY EVER AFTER)



Violet Jones (Sanaa Lathan) uma mulher negra, publicitária, perfeccionista além da conta, que não se permitia errar, resultado de uma criação rígida pela mãe de que tem que estar sempre com a aparência perfeita e com o cabelo alisado. Violet namora Clint, um médico residente – também negro.  Ela se esforçava muito com relação ao seu relacionamento procurando ser a namorada perfeita, ao ponto de acordar sempre mais cedo que ele para se embelezar e preparar seu cabelo, sua grande preocupação, pois o cabelo é alisado artificialmente, para que quando ele acordar a veja bela e perfeita.

Sem que perceba, o namorado Clint é a projeção da própria mãe que a vida toda ela fez tudo para agradá-la, passando por cima de sua própria vontade, provavelmente pela carência de ser aceita. O que não acontecia com o pai, que a aceitava do jeito que ela era.

A vida colabora com tudo que devemos superar, assim com a decepção de não ser pedida em casamento, ela enfrenta seu medo, o que para ela era a origem de muitos estresses, e ao se livrar dos cabelos se livra também do peso da perfeição, se escondendo imediatamente, pra logo depois se aceitar e ser feliz.

Nesse processo de busca e si mesma, se depara com a pequena Zoe filha do cabeleireiro que a ensina desde cedo a aceitar seu cabelo que ele considera lindo, criando aí uma contradição na psique da menina, porque então o pai alisava os cabelos de suas clientes? O que é legal, é que o pai explica que tenta dizer às clientes que seus cabelos são lindos, mas que elas têm o direito de escolher, e isso traz tanto para Zoe como para Violet a autoaceitação, e com ela uma libertação de padrões criados pela mídia que aprisiona muitos de nós, que aprisionou sua mãe e ela também.

Mas, na cena na piscina, fica claro, que quando um se liberta desses padrões de crenças aprisionantes, acaba sendo reflexo para todos à sua volta a perceberem que a beleza está em ser quem você é, e nada mais. Violet ao se empoderar como ser humano e ao tomar a decisão de não se curvar mais ao que lhe é imposto, crenças oriundas da ditadura das revistas de moda e das celebridades, Violet começa a se descobrir e lutar pelo que realmente gostaria de viver. Assim a mensagem do filme é nos mostrar que o caminho de Violet, na realidade, é uma busca do encontro com si mesma reorganizando sua vida em busca da felicidade.  

 


OBSERVAÇÕES PSICOTERAPÊUTICAS

·         Abuso no trato da mãe em relação à aparência criou um trauma em Violet;

·         Racismo e machismo: a mulher  sempre tem que estar bela. (mãe e  namorado de Violet);  

Projeção da mãe no namorado Clint, ele queria-a perfeita como a mãe, e ela se submetia pela carência de ser aceita;

·         Violet vive uma realidade que acredita ser feliz, mas que lhe causa muito estresse; 

·        Num momento de frustração e dor emocional, Violet se livra dos cabelos, o que ela acredita ser o "causador" de todos seus sofrimentos.

·    Libertação do trauma, das crenças da mãe, Violet se liberta dessa realidade de fachada, se aceita, se empodera, sendo ela mesma e feliz.


·         Zoe era livre, usava seu cabelo como queria, mas faltava a presença da mãe que foi preenchida por Violet.


 

3 - Olhar de Anjo (ANGEL EYES)

No longa, Sharon Pogue (Jennifer Lopez) é uma policial de Los Angeles que luta contra as pressões naturais de sua profissão e ainda o trauma de ter sido abusada na infância. Sua vida é alterada para sempre quando ela é salva por Catch (Jim Caviezel), um homem que perdeu recentemente sua esposa e filho em um acidente de carro. Logo um romance entre eles tem início, porém ambos precisarão vencer seus demônios.

Olhar de anjo é um filme que mostra como somos influenciados por memórias passadas, mas atuantes em nossas vidas, e que na maioria das vezes guardamos apenas fatos infelizes e neutralizamos as outras tantas boas recordações que estejam associadas a esses fatos. O que prova que temos a tendência natural de permitir que nossas relações sejam mais influenciadas por nossas experiências negativas do que pelas positivas.

No filme a policial Sharon Pogue é afastada de sua família há vários anos, ela luta para se reaproximar da mãe e do irmão, mas, há ressentimentos entre ela e o pai, com quem se desentendeu gravemente no passado. Assim leva uma vida sem acreditar muito em relacionamentos, principalmente numa relação a dois.


Convivendo com própria amargura, Pogue conhece e se envolve com o misterioso Catch, que também traz marcas de terríveis acontecimentos recém passados em sua vida. O rapaz vive de forma triste e solitária, acreditando ser outra pessoa, depois de sofrer um terrível acidente que ceifou a vida de sua esposa e seu filho pequeno.  Ele encontra Pogue pela lembrança do olhar que o manteve vivo e que salvou a vida, no dia do acidente, porém sem entender exatamente o que o liga a ela, pois se entregou a uma negação de tudo que aconteceu naquele dia. Assim inicia um relacionamento e descobrem algo em comum em suas vidas.

Sempre incomodada pelo fato de seus encontros românticos girarem em torno de seu trabalho, a policial sente-se incrivelmente à vontade ao lado de seus colegas do sexo masculino, que a tratam de forma igualitária e profissional, ou seja, Pogue se ignora como mulher e foge de viver um relacionamento, talvez porque não acredita na felicidade disso, da mesma forma Catch ignora seu passado e aparenta viver em um universo à parte, por não suportar a realidade trágica e cruel de que foi responsável pela morte de sua família.

Esse casal, sem que se percebam acabam se ajudando um ao outro nos enfrentamentos de suas dores, encarando suas realidades e vencendo seus medos com a força do amor.

 

OBSERVAÇÕES PSICOTERAPÊUTICAS

·         Violência na família de Pogue;

·         Projeção da personalidade do pai em seus atos como policial sem que perceba, o que acusa no pai passa a fazer sem que perceba;

·         O irmão de Pogue começa a ter o mesmo comportamento do pai;

·         Pogue libera o perdão e começa a ser mais gentil, se permitindo ser feliz;

·         Catch cria uma realidade paralela para fugir da dor, mas nessa realidade virtual é também infeliz;

·         Só quando ele enfrenta seus medos e traumas ele se liberta para ser feliz.



 O que esses três filmes tem em comum?

1.       Uma espécie de violência familiar, ou melhor dizendo abuso que causou traumas,  originados pelas crenças das mães de Tessa e Violet, seja em relação ao racismo, ao machismo e a beleza em sua perfeição, seja no desrespeito as suas filhas que não puderam ser simplesmente crianças.  Diferente de Zoe, que apesar de ter sido abandonada pela mãe, foi criada pra ser feliz como é, mesmo com a falta da genitora.

 Não quero julgar aqui o comportamento das mães citadas, mesmo porque cada um dá o que tem, e essas crenças podem ter sido herdadas da família, como vimos repetir com Tessa em relação a filha, as mesmas exigências. Mas, se você se encontrar em uma dessas personagens, gostaria que soubesse que você pode ser feliz, escolhendo mudar agora a sua vida. 

2.       A violência familiar provocado pelos pais de Júlia e Poque que lhes causaram traumas terríveis; Julia atraiu pra sim um namorado também violento, por acreditar em seu inconsciente que esse era o parceiro ideal, já que seu primeiro amor, o pai era violento com a mãe; e Poque, nem se permitia uma relação amorosa por não acreditar nela por conta da violência do pai com a mãe e irmão, porém usava de violência também com os prisioneiros, sem que se desse conta de seus atos, por estarem gravados em seu inconsciente.

 Tudo que julgamos em nossos pais passamos a fazer da mesma forma, sendo praticando ou atraindo pessoas iguais a eles. Isso não é uma punição Divina, mas a chance de perdão e de se libertar. “Não julgueis, pra não ser julgado, da mesma forma que julgueis, será julgado!” Na relação com os pais é fatal, portanto procure perdoar seus pais, compreendendo o que foi que se passou naquele momento, se colocando no lugar deles, e se liberte dos ressentimentos, para que não se torne você prisioneira (o) de seu julgamento.

 

3.       A criação de uma realidade virtual como forma de sobreviver no mundo, como fez Tessa, criando um mundo onde ela era perfeita e admirada, menos pela mãe, afinal essa sempre a julgava; assim como fez Violet que criou uma realidade de que só seria valorizada se fosse perfeita e bela em tudo; da mesma forma Poque que se comportava como homem para fugir das relações; e por fim Catch que criou sua realidade virtual imensamente triste como forma de fugir da dor e da culpa de ter causado a morte de sua família.

 Por mais que criamos essas realidades virtuais em nossa vida, há sempre uma voz interior nos dizendo que isso não te faz feliz; então ouça essa voz, analise e tome a coragem de lutar por sua felicidade, hoje e sempre. Tome as rédeas de sua vida! 

4.       A superação de Júlia, quando precisou enfrentar a violência que sempre sofreu e que temia, quando Tessa a ataca e ela pela primeira vez em sua vida consegue se defender a si e a sua família; a superação de Violet quando se aceita, se liberta e se apodera de quem é se tornando mais feliz; a superação de Poque, enfrentando seus ressentimentos, compreendendo com auxílio de Cath e da mãe, a dificuldade do pai, perdoando-o e assim se libertando pra ser feliz com Cath que por sua vez, enfrenta a sua realidade entendendo que não teve culpa no acidente, também se libertando e sendo feliz.  

 E você o que esta fazendo com sua vida? O que esta esperando para se superar e ser Feliz?


  Eu criei o projeto FILMEterapia para te ajudar a ter uma visão psicoterapêutica dos filmes com o objetivo de lhe trazer uma analogia com sua vida e seus conflitos, seja identificando-os, ou até mesmo resolvendo-os. Desejo-lhe Felicidade!

  

Vanderli Aparecida Pantolfi da Costa é Palestrante, Psicanalista
Saiba o que é: Terapia online
                                     


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