FILMEterapia: "O Amor não Tira Férias e Mulher Maravilha" O Que tem a ver esses dois filmes?


Por Vanderli Pantolfi

Vou começar falando do O AMOR NÃO TIRA FÉRIAS

É véspera de Natal, um momento em que a maioria de nós gosta muito dessa data. São momentos de reencontros familiares, trocas de presentes, carinho, confraternização; porém, é um momento também de reflexão, de reavaliar a vida, profissão, conquistas e fracassos. Mas, há também os que sofrem com essa data, por estarem sós, ou por não se relacionarem bem com a família evitam os reencontros, e se acontecem, acabam por gerar conflitos individuais e familiares por conta de emoções mal resolvidas, como carências e mágoas.

 Em meio a esse contexto em Los Angeles Amanda (Cameron Diaz) descobre-se traída pelo namorado que a acusa de ser fria e só se interessar pelo trabalho. Já em Londres a jornalista emocionalmente submissa Iris (Kate Winslet) fica arrasada ao descobrir que seu grande amor, um homem desonesto que a ilude por tempos, vai se casar com outra, num anúncio público em plena festa de fim de ano no trabalho de ambos, e ele nem teve a coragem de avisá-la. Experiências diferentes, mas dolorosamente semelhantes em termos emocionais para ambas.

 Assim, essas duas mulheres desiludidas, arrasadas,  cansadas de suas realidades vazias de sentido em aspectos emocionais, só querem desaparecer, fugirem de todo o esquema de pressão social e psicológica desse momento. Elas querem mudança! Um anúncio na internet sobre troca de moradia, unem as duas nesse propósito. Contato feito, elas decidem trocar suas moradia por duas semanas. Amanda na confiança de que não encontrará homens em seu destino e Iris numa fuga daquele homem que a fez e faz sofrer.

 

Empresária de sucesso criando trailers para o lançamento de filmes, acostumada ao conforto material, Amanda inicia sua aventura londrina,  de forma desafiadora, virando-se para levar a mala numa estradinha com gelo e neve, porque o taxi  não consegue chegar  até o chalé numa pequena vila próximo a cidade, e tenta se adaptar ao pequeno chalé com suas limitações. Amanda não consegue preparar seu café, mal cabe na banheira, bate a cabeça toda vez que desce as escadas e não tem lugar para colocar suas enormes malas, apesar de tudo isso, logo se ajeita com a companhia do cachorro de Iris, ao qual passa a ser seu ouvinte. Nessa mesma noite, o que ela não previa acontece, o irmão bonitão de Iris, Graham (Jude Law), sem saber das trocas de casas,  bate a porta pedindo pra ficar hospedado por conta do frio intenso e por ter bebido muito sem condição de dirigir.

 

 Já em Los Angeles, Iris fica maravilhada com a grande casa de Amanda e ama tudo que vê desde  a enorme TV na parede, os incontáveis botões eletrônicos, a infindável coleção de DVDs, a gigantesca cama, a cozinha,  a piscina e o quarto com persianas automáticas. Imediatamente joga-se nos lençóis macios e descobre maravilhada que vai poder dormir num quarto totalmente escuro.

Assim nesse trama, as duas mulheres terão de passar por provas, Amanda terá de voltar a chorar (teve um trauma com a separação dos pais) e Iris deixar de ser a melhor amiga  e se tornar a mulher apaixonante.  E, como sabemos,  para curar um amor, só mesmo se permitindo a outro.


Então,  Amanda e o bonitão Graham, começam uma relação e sem que se percebam já estão muito envolvidos. 


Iris conhece seu vizinho, Arthur Abbott (Eli Wallach), um senhor, bem humorado e simpático,  que viveu os anos dourados de Hollywood, como escritor de roteiros,  e sua amizade trará vida a esse homem que  vivia triste pela solidão.

 

Mais tarde Iris também descobre o amor com o Miles (Jack Black), que vai até a casa de Amanda como amigo do "ex" dela que foi expulso da casa. Conversas, jantares, afinidades e decepções amorosas acabam por uni-los e  todos terão dias de descobertas inesquecíveis.

 

 

 Agora vamos a MULHER MARAVILHA

O filme começa nos dias atuais, numa reflexão de Diana  em dizer que um dia também sonhou em salvar o mundo, ao ver uma foto antiga, retorna para a época da Segunda Guerra Mundial.  Diana (Gal Gadot) nasceu na Ilha Themyscira, local inspirado na mitologia grega e que só habitava mulheres amazonas  que são criadas para serem guerreiras imbatíveis.

A história que sua mãe Hipólita (Connie Nielsen), conta é que Diana foi criada do barro por ela mesma, pois, pediu aos deuses que lhe dessem a vida. Diz também que as Amazonas foram criadas por Zeus para proteger os humanos contra a ira de Ares (deus da Guerra) e que não permitiam a entrada dos homens e nem se casavam. Eram independentes e lutavam com os homens que tentavam dominá-las.

Desde pequena Diana  traz o espírito de uma amazona, que gosta de lutar. Sem que saiba quando criança, Diana foi presenteada com os poderes dos deuses do Olimpo, sendo considerada uma semideusa.

Adulta,  e vencendo a vontade da mãe que ficasse longe das lutas, ela passa a treinar com a tia Antíope (Robin Wright), e em determinado dia um avião pilotado por Steve Trevor (Chris Pine) um espião, cai nos mares da ilha, seguidos por alemães que causam uma luta com as amazonas, que acabam por expulsá-los. 

 Ao descobrir seus poderes e contra gosto da mãe ela acompanha o rapaz para acabar com o mal no mundo, porque se sente capaz e escolhida para isso e quer proteger a humanidade. Porém, ao chegar ao “mundo dos homens” se depara com injustiças, desigualdades e violência.


Contudo, sua paixão por Trevor a faz decidir ficar e lutar por um mundo melhor, com mais justiça, igualdade, paz e respeito.


Surge, assim, a Mulher Maravilha que se torna símbolo de força, empoderamento, inteligência e agilidade, numa época em que a mulher é submissa em todos os sentidos. Ela é poderosa, contra a ideia da superioridade masculina, empoderada, forte, dona de suas escolhas e cheia de coragem. Ela usa braceletes e tiara poderosos e tem sempre à mão seu laço da verdade, que faz com que aqueles que estão atados a ele não possam mentir.

 

O filme Trata de um amor entre pessoas, mas também de um amor altruísta pela humanidade.  Vemos a relação de Diana com a mãe e a tia, no aprendizado do bem, do que é certo, com a  simpática Etta Candy (Lucy Davis)  conectada com a relação das mulheres e homens da época.

 

Passando por Steve Trevor , sua história de amor sincera e equilibrada  sendo ele seu  companheiro, para ajudar acabar com o  grande mal que ameaça a humanidade.

 

 Faz parte dessa equipe também o árabe Sameer, o escocês Charlie e o nativo-americano Chefe.  Todos vão numa aventura  para livrar o mundo dos vilões, da Dra Veneno (Elena Anaya) e do General Ludendorf ( Danny Huston), influenciados por Ares (David Thewlis), O Deus da Guerra e traiçoeiro filho de Zeus, que se disfarça como um homem chamado Sir Patrick Morgan, um defensor da paz do Gabinete de Guerra Imperial, mas  que na verdade quer é mesmo, destruir a humanidade.

Assim, diante do combate final com Ares, Diana vê seu amor Trevor morrer numa explosão do avião que por idealismo, levava o veneno para salvar a humanidade da destruição. Ao presenciar a morte do amado  que se sacrifica pela humanidade Diana acessa o amor compaixão em todos seus aspectos.

Voltando em tempos atuais, compreende que antes de salvarmos o mundo temos que salvar a nós mesmos. Com esse confronto compreendido dentro de si, e com esse amor revelado, ela se descobre deusa e imortal, bem como descobre sua missão.

 Obs.*A personagem Mulher Maravilha foi criada em 1941 pelo psicólogo norte-americano William Moulton Marston e desenhada por H. G. Perter.

  

O QUE ESSES DOIS FILMES TEM EM A VER?

No Amor não tira férias, começamos pelos corações partidos. O amor e a felicidade, sentimentos que buscamos naturalmente , mas que por parecer uma convenção social, estão de alguma forma determinando as nossas vidas, parecendo uma obrigação, uma meta a ser alcançada para que nos definimos como “pessoa feliz”. Na época do Natal, então, tais cobranças ficam como fundamentais. 

 Mas por que isso? Se formos pensar numa perspectiva cultural, as festas de fim de ano, são momentos de balanço. É quando as pessoas tentam analisar promessas não cumpridas ao longo do ano. É quando a maioria geralmente arranja um tempo para reunir-se com a família, mesmo que tal encontro seja indesejado por outros.

 E no filme, fica claro que as personagens não aparentam ter fortes laços familiares, o que lhes causam sensações ainda mais angustiante de solidão, abandono,  principalmente para Amanda,  que apesar de ter dinheiro, uma casa maravilhosa,  tem  na vida emocional e  sentimental um grande vazio e têm dificuldades de expressar suas emoções, trauma criado na separação dos pais na infância. Iris também não é diferente, vivendo uma relação submissa se permitindo apenas  ser “a amiga”, e não o amor na vida do outro, provavelmente por conta de carências que não consegue superar. Ambos corações dessas personagens, apreensivos com a falta de amor em suas vidas e  no dia-a-dia, ligadas no piloto automático como acontece também com todos nós, sempre respondendo às demandas de um sistema que sem que percebamos nos oprime sem que percebamos.

 Já no filme da Mulher maravilha, apresenta dois mundos bem distintos: o das Amazonas, escondido, matriarcal e com um ódio terrível dos homens, e o dos humanos, em guerra e estritamente patriarcal.  Diana se coloca na missão de unir esses mundos.  Sendo criada como guerreira, independente, destemida, empoderada, idealista e jamais submissa, passa a uma transformação quando se apaixona por Steve.  Essa relação poderia ser interpretado pelas amazonas como uma fraqueza para uma guerreira, apesar do filme deixar claro que Diana é fruto da União de Zeus e sua mãe. Mas, ao se relacionar, de alguma forma Diana atrai uma vulnerabilidade para sua vida, quando seu coração sofre com a morte do seu amado Steve.

Destaco a fragilidade das relações humanas, o sentimento de insegurança que nos inspira e os desejos conflitantes de apertar os laços e ao mesmo tempo mantê-los frouxos,  sendo um sinal das relações frágeis e inconsistentes que deixam todos incertos no que tange aos meandros das relações afetivas.

Vemos as personagens do filme romântico numa fuga dessas relações, pelo medo do enfrentamento, e por sua vez a descoberta de Diana, a Mulher Maravilha diante desse tipo da relação afetiva. Entendendo que até os super heróis homens, como o Super Man, O Batman e o Homem Aranha, se tornam vulneráveis diante do amor, como qualquer ser humano.

Dessa forma, a falta que faz o amor na vida de mulheres bem resolvidas em a sua vida profissional como heroínas que são,  Amanda, Iris e Diana, é natural como pra qualquer pessoa normal. Porém o que deve estar alerta, é quanto a subjugação e a dependência emocional que se pode criar, na busca de um par perfeito, que é uma ilusão, pois, ninguém é perfeito. Há sempre que estar atenta, que nenhum relacionamento se sustenta com atitudes de submeter e submissão.

Amanda e Iris é tão heroína quanto Diana, quando optam por mudar suas vidas, continuam guerreiras, independentes mas, decidiram e se permitiram viver o amor companheiro.

Assim nós mulheres modernas podemos nos identificar com esse papel de guerreiras, pois cuidamos de nossa vida, dos filhos, da carreira tudo, contrabalanceando com os relacionamentos que  almejamos estáveis e felizes.

Resumindo, o que tem a ver pra mim nesses filmes, O Amor Não Tira Férias e A Mulher Maravilha é que o caminho da transformação das personagens para a sua realização no amor, passa primeiro pela auto aceitação e amor próprio conquistado na decisão de mudar, entender e compreender a si mesmas, como pessoas. Iniciou como mudança externa na vida de Amanda, Iris e Diana, mas que por isso mesmo pode ativar as mudanças interiores de cada uma numa satisfação em se permitir, se merecer e conviver com o amor e a felicidade desejada.  Assim como Amanda e Iris se aceitam como são, se permitindo uma relação amorosa, companheira, segura e feliz, Diana aceita o mal e o bem em si mesma e se torna um símbolo que pode espelhar o desenvolvimento da mulher moderna em seu processo de individuação tão e igual ao homem como seres humanos.

 

  ASSISTA O VÍDEO AQUI: Vanderli Pantolfi

 

Vanderli Aparecida Pantolfi da Costa é Palestrante, Psicanalista

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