Por Vanderli Pantolfi
Porque
Falar de filmes numa Visão Psicoterapêutica?
Eu amo filmes e séries, e assistindo encontrei uma
forma de dividir com vocês minha visão psicoterapêutica do enredo, sempre com o
objetivo de esclarecer aos relacionamentos e compreender os comportamentos dos personagens;
Trazendo para vida real como entendimento de vida, liberação de conflitos para
cada qual encontrar o seu caminho da felicidade.
Resumo:
No filme “O Juiz”, considerado o
filme-de-família e o filme-de-volta-pra-casa.
Henry Palmer (Robert Downey Jr.) é um advogado de muito sucesso que
volta a cidade de origem para o velório de sua mãe que há muito tempo não a
visitava. Assim é recebido de forma hostil pela família, principalmente pelo
pai, o veterano juiz Palmer, que logo após o funeral da esposa é apontado pela polícia
como responsável pela morte de um homem que condenou há vinte anos. Mesmo sem a
aprovação inicial do pai, Henry se envolve com o caso, porém, a possibilidade
de condenação do pai vai aumentando a cada revelação e no meio disso tudo a
relação dos dois também complica por conta de lembranças do passado. Mas Henry
é famoso por salvar muitos culpados da cadeia, e fará de tudo para salvar o pai
também, claro se esse deixar.
Visão Psicoterapêutica
No filme, Henry foi embora após um acidente ao qual o pai o culpa pelas
conseqüências resultantes do mesmo, afinal ele quem dirigia o carro. E assim só
voltou para o velório da mãe. Tudo isso
trouxe mágoas ao pai e irmãos.
Por
que o Tema: Pai e Filho Visões do Amor Certo e Errado?
Porque é assim que acontece mesmo na verdade na vida. Cada qual tem sua
visão da relação seja qual tipo for e no filme ambos, pai e filho, vêem a
expressão do amor de forma certa e errada de acordo com seu entendimento e emoções.
O pai um juiz tradicional com uma visão muito moralista, sempre teve a
vida baseada na justiça, e muito rígido na educação dos filhos, e essa rigidez
ainda continua nos tempos atuais, com os filhos adultos, nas suas crenças com
todos, mas, principalmente com Henry. As coisas têm que ser do jeito dele,
segundo o filho.
Talvez você tenha um pai assim, igual ao juiz, ou seja, tudo tem que ser
do jeito que ele quer. Claro que isso é
irritante, porque parece que para esse tipo de pai, a gente não cresceu e tem
que obedecê-lo o tempo todo. E no filme
esse comportamento irrita muito Henry, afinal ele já é adulto, e parece um
desrespeito com ele por parte do pai.
Mas, é importante analisarmos a idade do juiz, com suas crenças. Ele
realmente acredita estar fazendo o certo exigindo dos filhos comportamentos que
ele acha corretos. É a sua forma de
amar, é mais rígido ainda com Henry porque esse o enfrenta, e o pai teme pela
felicidade dele, na verdade sempre se preocupou com o filho do meio, por isso
cobra mais dele, chega a dizer que gostaria de gostar mais dele porque não o
acha honesto como profissional.
Já com Henry, é notável o ciúme que traz do irmão mais velho, porque o pai o admirava, e por isso de forma inconsciente na infância e adolescência estava sempre “aprontando” segundo seu irmão Glen pra chamar atenção do pai. Então o acidente acontece com conseqüências para a família e ele, Henry sente que o pai o culpa por conta disso. Talvez, isso explique a sua fama de defender os culpados, talvez seja a forma de tentar se libertar dessa culpa, em ajudando os culpados o ajudaria a ele mesmo também culpado a ter a chance de se liberar da culpa.
Ao voltar pra cidade natal, pra sua casa, as lembranças surgem para Henry.
Lembranças agradáveis na idade infantil e isso fazem com que tente entender
porque o pai mudou tanto com ele, a ponto de não ter ido a sua formatura de
Direito, assim como também não foi ao seu casamento, e nem conhecia a neta, sua
filha, que, após o velório da avó vem passar um fim de semana com o pai e
família. Inclusive Henry passa para a filha a imagem que tem do pai, de um
homem frio, rigoroso, comparando-o a uma múmia. Porém, seu pai se apresenta
muito agradável e carinhoso com sua filha confundindo mais ainda suas emoções.
Vemos nessa relação à forma de amar do pai segundo suas crenças, sua
rigidez, mas querendo que o filho seja uma pessoa do bem. Inclusive ao condenar
um criminoso no passado, que posteriormente é assassinado, com uma pena leve, o
juiz projetou nesse homem seu próprio filho, o Henry como uma forma de que
alguém também pudesse ajudar seu filho. Ele espelhou no criminoso o próprio
filho, claro que não pelo ato, mas por achar que agindo assim ajudando um
condenado, alguém também pudesse ajudar seu filho, por achá-lo rebelde. Por sua
vez Henry acha a forma do pai de demonstrar amor, uma forma rude, rígida demais.
Ao retornar a casa depois de muitos anos, é como se o menino sedento de atenção
e carinho do pai voltasse e não o adulto vencedor. Vemos isso logo no início
quando ambos se encontram, o pai abraça a todos, mas a ele dá apenas um aperto
de mão, esse ato do pai o faz sofrer muito, pois Henry chega a comentar com o
irmão mais velho.
Mas, é que o pai também esta magoado pela ausência tão grande dele, e
principalmente por não ter vindo ver nem mesmo a mãe antes dela morrer, apesar de
sempre ter se comunicado com a mãe por telefone e assim o juiz também ficou
sabendo da vida do filho através da sua esposa que nunca teve segredos para o
marido. É dessa forma, por saber de sua vida, que o pai o provoca, sobre seu
casamento mal sucedido, e mais, o envergonha na frente dos irmãos ao dizer que
a ex-esposa de Henry traiu-o. Para Henry, isso é muito humilhante, ainda mais
vindo do pai ao qual tem tanta carência de atenção.
Assim, vemos uma relação de muitas mágoas, cobranças, acusações, mas
também, de muito amor, incompreendido é verdade, por ambas as partes.
Esse tipo de relação vemos constantemente na vida e na clínica. Cada qual
tentando impor sua forma de amar ao outro, sem entender que cada um tem seu
jeito próprio de expressá-lo.
Lembro de um cliente, que queria a todo custo que seu pai o amasse como
ele achava que o pai amava seus irmãos mais novos de um novo casamento. Ele
assim como Henry dizia que o pai era muito rígido com ele, que com ele só
cobranças e com os outros tudo, carinho, presentes e atenções. No caso dele, o
pai abandonou a mãe quando ele ainda era muito pequeno, e voltou a ter contato
depois de muitos anos. Então quem me segue já sabe que estou sempre dizendo que
existem três fases criadoras de nossos conflitos: a gestação, o nascimento e a primeira
infância, e foi nessa última que aconteceu uma rejeição por parte do pai que
resultou em crenças inconscientes para o cliente do tipo: que ele não merecia o
amor do pai, e ou que era culpado pelo abandono, já que como a mãe, o pai é
Deus e Deus não erra se houve o abandono a culpa era dele.
Porém, no filme, não há uma narrativa nesse nível, vemos até uma relação
boa do pai com os meninos, com a mãe e os filhos durante a infância. Somente
aparece o acidente o qual teve conseqüências para o futuro da família e que Henry
se sente culpado pelo pai, e nessa fase ele já tinha 17 anos, adolescente, e
inclusive depois de tudo isso que ele se afasta, indo estudar fora e nunca mais
volta. Mas, é nítida a carência que sente em relação ao pai, por isso me
lembrei do meu cliente, pois você não vê um homem, mas sim o menino querendo a
atenção do pai.
No filme há uma cena linda, após uma discussão entre pai e filho, numa estrada o carro com os irmãos ao centro, o pai segue a pé para frente e Henry volta no caminho demonstrando como ambos têm visões opostas do caso do pai e da própria vida de ambos.
Pra quem não assistiu ainda ou pra quem
assistiu e quer rever com essa visão psicoterapêutica, preste atenção num
momento do filme, onde Henry cobra o pai por suas ausências nos momentos
importantes da vida, e o pai fala das dificuldades que Henry lhe causava, ambos
concordam que Henry teve sucesso, mas, cada qual acha que foi o responsável por
isso, ou seja, na visão do pai, foi por conta de sua criação e rigidez que
Henry chegou ao sucesso, já pra Henry foi graças a seu esforço em mostrar ao
pai que poderia ser tão bom quanto ele na sua profissão de juiz.
E assim o filme vai se desenvolvendo, e independe de como a situação
acontece no final do filme, quero chamar atenção para o hoje, como esta você na
relação com seus pais e seus filhos?
Sei que não é nada fácil essa relação, mesmo porque não existe relação
perfeita, uma vez que nenhum de nós é perfeito. Mas, quero que observe que
sempre há e haverá na vida chances de revermos e ressignificarmos essa relação,
é importante estarmos atentos a elas.
Eu estou! Nesse momento inclusive, estou tendo também uma oportunidade de
voltar à cidade natal, voltar as minhas raízes. Diante disso, assim como no
filme com Henry é natural as emoções virem à tona, mas é muito bom estar em
contato com elas nessa nova visão, nesse entendimento psicoterapêutico.
Entender o porquê disso tudo, das relações com os pais e com os filhos, é
libertador. Sim, meu caro e minha cara, terapeutas também tem emoções a
resolver, somos iguais a todos, somos humanos!
E por isso posso falar com toda propriedade porque além do aprendizado
com os clientes vivo na pele as situações, primeiro para me libertar e segundo
como experiência de clínica na prática.
No filme existe um final, mas a sua vida esta em pleno caminho agora, e o
caminho é mais importante que a chegada, porque na verdade a chegada não existe
de fato, já que estaremos sempre a caminho.
Então te convido a observar o seu caminho agora, como esta você, próximo
ou distante de seus pais e ou dos seus filhos? Caso não esteja próximo, como
resolver isso?
É simples, mas não fácil! E tudo
começa com a DECISÃO de QUERER RESOLVER!
Feito isso, procure se aproximar do desafeto seja pai, mãe, filho, ou
filha. Converse, procure entender como chegaram a essa situação. Procure se
abrir e diga-lhe como se sente diante de tudo que acontece e ou aconteceu na
vida de vocês segundo sua visão, e procure ouvir a visão dele e ou dela.
É um caminho, como eu disse simples, porém não fácil!
No próprio Evangelho diz que devemos nos acertar com os desafetos
enquanto estamos no mesmo caminho, porque depois ficará mais difícil. O que
quer dizer isso? Quer dizer que, enquanto estamos todos vivos!
Mas, se no seu caso a pessoa já morreu? Calma, também é possível resolver
isso, usamos na clínica técnicas pra te ajudar, porque bem na verdade, não é o
outro, é você! Tudo consiste em você, como você vê, entende e aceita ou não a
relação, porque ela continua, independentemente se a pessoa esta viva ou não,
porque esta em você a dor e conflito.
Dessa maneira, te convido a aproveitar esse momento de inicio de ano, onde
estamos mais abertos a um entendimento, a refletir sua vida, suas relações com
seus pais e filhos.
Lembre-se que estamos sempre expressando essa relação na sociedade, como
fez o juiz na sua visão ao comparar seu filho ao criminoso necessitado de
auxílio assim como ele próprio sendo acusado de ser culpado da morte de alguém,
talvez porque culpou o filho no acidente segundo a visão de Henry? E Henry, ao
defender os culpados, se sente culpado como vê seus clientes e procura se
libertar da culpa, mas também é uma forma de desafiar o sistema judiciário,
rígido desafiando aí a figura do pai que o representa.
No filme, também há as duas visões pelos personagens, pai e filho, o juiz
e o advogado de sucesso. A visão do que é certo e errado de cada um resulta de
suas crenças e entendimentos da vida e da relação que ambos têm em comum, porém
até isso pode mudar quando se entende e compreende a visão do outro,
libertando-se da verdade absoluta, que ninguém a têm.
Assim, te convido agora a aproveitar seu caminho aí que esta seguindo e
se resolva com suas raízes, seus pais e ou com seus filhos, entenda que é o que
precisa pra ser feliz, porque sem isso, você pode até ter sucesso em uma área
como Henry e seu pai, mas jamais será feliz nas outras. Você não precisa
esperar chegar ao final, feliz ou indesejado, já que você pode ter seu caminho
feliz agora, nesse momento, decidindo pelo melhor caminho a percorrer que é o
Caminho da Felicidade!
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